Sunday, September 30, 2007

ciclo.

Eu coleciono sentires.
Pego a cada um
e reciclo num papel qualquer.
Não há ozônio que se prive,
Não há bem que se obtenha.
Não há nada além de leitura oportunista num papel.*
*Ramon Chaves.

Fruto.

Me cai uma lágrima de alegria.
Eis que tive um filho,
fruto imaginário.
Fruto aflito.
Eis que quando escorre, a lágrima,
parece , apesar de líquida, quente.
Todo líquido é frio;
depois de passado tempo.
Toda lágrima é vã;
Depois de passado tempo.
Todo fruto cresce.
Aflito fruto cresce;
Apesar de passado tempo.*

*Ramon Chaves.

Quebrar a regra do parecer.

A angustia de me ser falhou,
O pesar que trago a min, pereceu.
O vento, o charco, tempo, tudo.
Em vão tornou-se muito,
ao ser,
ao me ser.
Ao que lhe cativa .
Ao furto inerente ao viver,
o que roubas de min,
o que pega a ti, involuntáriamente.
a triste angústia de parecer ter sentido.*

*Ramon Chaves

Sangue.

Empilho livros velhos,
velhos a outros leitores,
que pela poeira e ócio
envenenam minha saúde.
Respiro pela boca ,fria.
Talha meus lábios,sangra.
O sangue das veias escorre
que pela causa da poeira do livro,vasa,
rasga minha carne.
Mancha minha memória.
A poeira que se acostuma ao livro.
O sangue que seca , ao lábio.
Mostra a min , triste hábito,
De não sangrar a fria página.
Página que retribuiria o ato,
me mostraria, ingrato,
o prazer do sangue reciproco.*

*Ramon Chaves.

Tuesday, September 11, 2007

O Funeral.

No funeral,
de quem já nem lembro
era comida, era bebida,
era alegria.
Todos sorriam,
inchavam as panças
contavam da vida,
contavam piada,
contavam histórias,
contavam sorrizos,
contavam mentiras.
Ainda se fala do morto.
Mas quase nimguém sabe quem foi.*
Ramon Chaves